sábado, 13 de novembro de 2010

O dólar e a Bolsa de Valores. Quando um sobe o outro desce.

Todos já sabem que vivemos numa era globalizada, que vai da economia ao resto das coisas que existem no mundo, inclusive nos costumes.


E justamente dessa combinação economia e costumes, os comportamentos e as consequências econômicas no mundo inteiro são as mesmas, independente do grau de riqueza das nações.

Escrevi antes nesta coluna um artigo fazendo uma comparação entre investir e consumir, pedindo cautela aos consumidores na hora do endividamento, pois o mar ainda não está bom para navegar.

Investir também requer cautelas e várias são as formas. Poupança, ações, Fundos de Investimentos, Previdência privada, etc., para citarmos os mais populares.

Apesar de concentrar um alto volume de dinheiro envolvido, pequena parte da população investe no mercado de ações. Mas demonstra que ali se concentram as maiores riquezas mundiais e que estão nas mãos de poucos. E esse tipo de investimento lidera e comanda as atitudes das demais, por seu alto grau de risco de retorno e pelo seu alto grau de concentração de riquezas movimentadas.

E é ai que entra forte o fator da globalização das economias, que não tem mais fronteiras. Você pode morar aqui na Paraíba, no longínquo município de Bernardino Batista e de lá investir nos melhores mercados de ações, na Ásia ou na Europa. Bastam: o computador, conta bancária e dinheiro (e nem muito dinheiro).

Um leitor desta coluna me indagou o seguinte: porque é que quando a bolsa cai o dólar sobe, e o contrário também?

Antigamente nós éramos o quintal do mundo (e vários outros países fora do 1º escalão também eram assim) e quando Wall Street dava um espirro lá em Nova York, o resto do mundo pegava uma pneumonia (não sou o inventor dessa frase, ela fazia parte do chavão economês até bem pouco tempo). Hoje não só a bolsa de Nova York contamina o mundo, várias outras, Ásia, Índia, Europa e até a nossa BOVESPA influenciam o comportamento da economia mundial e o tamanho da crise ou fragilidade da estabilidade econômica de um País.

Hoje a Ásia e os Estados Unidos ainda são os mercados mais influentes, mas de 2007 para cá por duas vezes a nossa Bolsa (BOVESPA) teve que interromper sua operação, o pregão como se chama o evento, por iniciar operando em forte queda para que isso não virasse uma bola de neve para o resto do mundo. O dólar que variava na casa dos 2 reais já alcançava os 2,45 reais em movimentos de três dias. E vejam a ironia, caia a bolsa no momento em que a Petrobrás descobria novos poços de petróleo e os Estados Unidos havia aprovado pacotes de quase um trilhão de dólares para conter sua crise e gerar investimentos e empregos.

Mas como esse tema não é a praia de muitos mortais e eu sou apenas um dos tantos atrevidos economistas a dar palpite, tentarei explicar tudo isso de uma forma bem simples.

Imagine um grande investidor querendo se desfazer das suas ações na BOVESPA. Por lei, ao se desfazer ele recebe o que vendeu em Real, a nossa moeda. Agora imagine não apenas um investidor, mas vários grandes investidores mundiais. Ao tomarem essa atitude, os preços das ações tendem a cair (e a formar um nível de desconfiança no mercado). Ora, para levarem o dinheiro lá para fora, eles precisam transformar em dólar (aquisição) e entram para o mercado cambial. Quando há grande procura pela moeda americana, o que acontece? Fatalmente uma valorização do preço dessa moeda e dependendo do tamanho, uma forte valorização acompanhada de um stress do mercado com “essa estranha movimentação”. Esse espirro pode afetar outras localidades. Vocês não acham? Não é tão simples assim, mas é por aí...

Devemos considerar que não se transforma o Real em Dólar somente para transferir lá para fora. Adquire-se a moeda americana como um ativo de relativa liquidez, por verem que as ações estão caindo e como o tipo de investidor gosta de continuar correndo riscos de ganhos maiores que a Poupança ou outros meios mais conservadores, busca essa que dependendo da intensidade vai ao encontro da lei do mercado. Quando há mais procura há mais valorização, pois a procura fica maior que a oferta.

E porque isso acontece em relação à Bolsa? Porque a movimentação é mais rápida. A conversão de ação em dinheiro é mais líquida. Investimentos em outros ativos, como imóveis, carros, terrenos, etc., requerem um longo tempo para transformá-los em Real e o mercado não espera e não está nem para você.

Os investidores estrangeiros chamam essa movimentação de “flight to quality”, voar para investimentos de melhor qualidade naquele momento.